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Natal fora do Looping

Este ano o Natal foi bem diferente. Aprendi a fazer panetones!! O tradicional, o chocotone e, também, um de damascos com amêndoas em lâminas. Esse eu inventei, mas provavelmente alguma outra pessoa também já inventou, rs...

Mas não é sobre isso que quero escrever agora. Afinal, a vida é um aprendizado contínuo, e o Natal não foge disso. Costuma navegar em espiral, atravessando o tempo, mas sempre voltando ao mesmo ponto, não é mesmo? Neste Natal de 2020 eu tenho lembrado daquele filme do Walt Disney em que o Huguinho, o Zezinho e o Luizinho desejam que o Natal aconteça todos os dias. E – abracadabra – o desejo deles é prontamente atendido! 😊 De início, eles ficam super felizes, claro, mas após alguns dias na mesma rotina, eles já não aguentam mais!!! Já imaginou, acordar todos os dias na mesma hora, ganhar os mesmos presentes, vestir a mesma roupa, comer o mesmo de ontem, de anteontem, da semana passada, do mês passado... do ano passado! Sorte que no desenho as coisas já vêm prontas, senão imagina só que trabalheira TODOS OS DIAS!!!

Tava pensando aqui... na verdade, a gente vive num looping. Mas essa é outra história, hoje quero focar é no Natal.

Quando o meu pai era vivo, todos os anos eram basicamente compostos do mesmo ritual natalino: sempre havia um pinheiro de verdade de 2m, comprado no Horto Florestal. O cheirinho de Natal começava na época do advento, com os ramos que a minha mãe distribuía nos vasos colocados em cantos estratégicos da casa. Meu pai trancava a sala, para só vermos o que ele estava arrumando ali há 15 dias, na noite de 24 de dezembro. Depois que eu descobri que o “Christkind” (‘Menino Jesus’ em alemão) era o meu próprio pai, passei a ajudá-lo na montagem do presépio talhado a mão que fora da minha avó. O presépio tem uma história também, mas esta eu conto num outro dia 😉


Já mais crescidos, passamos a montar todos juntos a árvore de Natal, o que era feito em etapas: primeiro eram instaladas as ‘velas’. Depois era a vez das bolas e outros enfeites que meu pai ia colecionando ao longo dos anos e, por fim, meu pai e o meu irmão mais velho cobriam os galhos do pinheiro com ‘lametta’ – um item caríssimo, difícil de adquirir em terras brasileiras, e imprescindível numa árvore de Natal alemã. Os longos fios de papel alumínio cortado de fábrica bem fininho (igual couve) embaraçava fácil e, uma vez embaraçado, já não causava o mesmo efeito. Por isso, todo cuidado era pouco tanto na colocação quanto na hora de tirar, pois tinha que ser guardado para o Natal seguinte.


Minha mãe cuidava da comida. Semanas antes, começava a produção do “Weihnachtsgebäck”. Uma tradição maravilhosa em noites de inverno quando as famílias se reúnem para cantar e tocar músicas natalinas e se reunir em volta do forno quentinho, de onde saem biscoitos com formato de estrela, lua, pinheiro, passarinho, ovelha, boneco... só que em nossa casa sempre foi verão! Muito calor, mas acho que para minha mãe era um jeito de matar as saudades de casa e, para nós, era muito divertido brincar de massinha e depois vê-la transformada em guloseimas! Lembro da cozinha repleta de assadeiras com biscoitos que depois eram armazenados em latas de alumínio. Alguns a gente ia devorando junto com a ansiedade de contar os dias abrindo uma janelinha por dia do “Adventskalender”, outros precisavam de um tempo para amaciarem até a véspera do Natal, cuja ceia era bem mais prática: lombo assado com abacaxi, pêssegos e ameixas em calda, acompanhado de arroz e purê de maçãs. Não lembro se tinha salada... Acho que tinha. Um vinho branco para acompanhar e, de sobremesa, frutas: pêssegos e ameixas frescas, uvas de vários tipos, peras, maçãs... e o “Weihnachtsgebäck”! 😊

Todos os anos, eu meus pais e os meus irmãos, entrávamos nesse mesmo looping, com algumas variações conforme íamos crescendo. Isso, até o Natal de 1995, quando meu pai foi diagnosticado de um tumor no cólon, que precisava ser extraído com urgência. Não houve tempo de montar o presépio, não lembro mais se a árvore de Natal já estava montada. Era 22 de dezembro e estávamos no hospital, aguardando notícias do centro cirúrgico. Uma ansiedade bem diferente daquela em que abríamos as janelinhas do calendário de advento, curiosos para abrir nossos presentes. Naquele dia, o presente mais esperado era a saúde do nosso pai de volta. Aquele foi o nosso primeiro Natal “diferente” e, daquele ano em diante, pelo menos no meu caso, os Natais foram ficando bem variados, sem aquele apego rígido à tradição que me havia sido ensinada. A primeira quebra de protocolo aconteceu ali mesmo: decidimos que o nosso Natal aconteceria no dia em que o Papa voltasse para casa. E isso aconteceu no final de jan/96. Sorte da minha sobrinha, que nasceu no dia 23 e pôde desfrutar conosco de uma noite verdadeiramente feliz, preenchida de uma abençoada gratidão pela vida!


Quer aprender a fazer um biscoitinho de Natal? Esse "Weihnachtsgebäck" é o meu preferido. O nome desses biscoitos é "WespenNester" - ao pé da letra, traduzidos como "ninhos de vespa". Basicamente, são suspiros que, na receita original que pus logo abaixo, vai chocolate em pó e nozes 'mariposa'. Mas, um dia, eu resolvi usar castanhas-do-pará e... Gente!!! ficaram ainda mais gostosos!!! Você pode também fazer com amêndoas ou misturar diferentes tipos de nozes ou castanhas.



WESPENNESTER | NINHOS DE VESPA


Ingredientes:

3 claras

250g de açúcar refinado

1 colher de baunilha

30g de chocolate/cacau em pó

250g de nozes mariposa, castanhas e/ou amêndoas picadas grosseiramente.


Modo de fazer:

Bater as claras em neve, até ficarem bem firmes. Acrescentar o açúcar e a baunilha aos poucos, e continuar batendo.

Peneirar o cacau em pó sobre as claras em neve, misturar cuidadosamente com uma colher de pau.

Por fim, inserir as castanhas/nozes por baixo dessa mistura cuidadosamente, sem mexer, para não compactar as claras em neve.

Usar duas colheres para formar montinhos de aproximadamente 2cm (diâmetro) numa assadeira untada ou forrada com papel manteiga.

Colocar no forno em temperatura ba ixa. Quando estiver no ponto de suspiro, tirar do forno, e esperar esfriar antes de tirar da assadeira, pois ele fica ainda um pouco grudado e pode quebrar se ainda estiver quente.




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